Fim do contrato com a ViaBahia: e agora, quem vai mudar o destino da BR-116?
Por décadas, a BR-116 foi símbolo de desenvolvimento e tragédia para Vitória da Conquista e municípios vizinhos. A promessa de progresso que cortou o Sudoeste baiano com concreto e asfalto também trouxe uma herança amarga de negligência, acidentes e vidas perdidas. Agora, com o fim do contrato com a ViaBahia no próximo dia 15 de maio, um novo capítulo se anuncia — e a audiência pública promovida pela ANTT, realizada nesta quinta-feira (8) em Conquista, mostrou que a sociedade não aceitará mais o mesmo roteiro de omissão e descaso.
O projeto de nova concessão, batizado de Rota 2 de Julho, foi apresentado como um plano robusto: R$ 24 bilhões em investimentos ao longo de 30 anos, mais de 600 km de rodovias, com duplicações, viadutos, faixas adicionais, passarelas e uma modernização que parece saída de um país ideal. Mas por trás dos slides e gráficos da Agência Nacional de Transportes Terrestres, a pergunta que paira é direta: quando? E mais importante ainda: será diferente desta vez?
A prefeita Sheila Lemos deu o tom da urgência. Ela falou de forma firme e emocional sobre o Anel Viário de Vitória da Conquista, hoje uma armadilha urbana onde tragédias são parte da rotina. “Aqui, as pessoas estão morrendo diariamente. Precisamos de soluções urgentes”, disse, cobrando clareza sobre prazos, valores e obras concretas. A prefeita não está sozinha: prefeitos, vereadores, deputados, empresários e representantes da sociedade civil reforçaram que, desta vez, o projeto não pode ser apenas mais um plano bem intencionado.
A frustração com a ViaBahia ainda ecoa nas falas dos representantes locais. O deputado Thiago Correia lembrou que o contrato anterior foi descumprido desde o início. O presidente da Câmara, Ivan Cordeiro, entregou um documento com as principais demandas locais à ANTT, reforçando que não basta esperar pela nova concessionária — é preciso articulação política para garantir investimentos federais imediatos. O deputado Zé Raimundo trouxe a história para a mesa: essas estradas, que um dia serviram aos tropeiros, hoje conectam um Brasil desigual e exigem respeito à população que as utiliza.
A audiência também evidenciou o quanto a região está mobilizada. A presença massiva de autoridades, empresários e movimentos sociais, como o Duplica Sudoeste, mostra uma sociedade madura e consciente de seu papel. Mas há cansaço. Cansaço de esperar. Cansaço de ver obras prometidas que não saem do papel. Cansaço de ver a BR-116 ser um canal de riquezas para o país, mas uma via de perdas para quem vive às suas margens.
A ANTT e o Ministério dos Transportes falam em ferramentas de regulação, transparência e fiscalização. Há a promessa de suspensão temporária do pedágio e uma nova licitação para manutenção de curto prazo. Mas a verdade é que a confiança está abalada — e só será restaurada com ações concretas, obras visíveis e um cronograma que não escorregue nas desculpas de sempre.
A nova concessão da BR-116 não é apenas uma troca de empresa. É uma chance rara de corrigir o curso de uma estrada que, literalmente, tem custado caro demais à Bahia. E não apenas em dinheiro, mas em vidas humanas.
Por isso, o desafio daqui em diante é tão grande quanto o asfalto que serpenteia o estado: fiscalizar com firmeza, exigir prazos reais, garantir que cada viaduto prometido saia do papel e que cada faixa de segurança represente, de fato, proteção para quem vive e trabalha no entorno da rodovia. Vitória da Conquista e o Sudoeste baiano não pedem mais do que o básico: respeito, compromisso e ação.
Essa é a estrada que precisa ser pavimentada agora.